Somos contato desde a hora em que nascemos até a hora em que morremos. Toda experiência em vida, se dá entre o organismo e seu ambiente.
O que fazer quando temos uma importante diminuição do contato com os outros e com o meio, imposta devido a um cuidado necessário, relacionado ao bem estar individual e social?
Como podemos permanecer saudáveis se parte do que se entende por saudável está relacionado a interação social?
Devido aos últimos acontecimentos, que requerem um isolamento emergencial social no intuito de uma menor propagação do Covid-19, uma enorme quantidade de pessoas, se vê agora frente a necessidade de trabalhar ou estudar em regime de home office, tendo de administrar tarefas e rotinas domésticas com tarefas e rotinas profissionais e/ou de estudo.
Assim, observa-se que há imperativamente, para muitas pessoas, não só o isolamento social, como ainda a acumulação de funções a serem feitas na rotina do dia a dia, devido a necessidade de menos contato e com a escassez de muitos serviços. Lidar com essas questões pode causar adoecimentos graves, pois a sensação pode ser a de que não se vai dar conta... de cuidar de tudo, de cuidar de si.
A grande questão é que, ao passo que percebermos que estamos cada vez mais isolados dos outros, percebemos também, que ficamos cada vez mais próximos de nós mesmos. Nós mesmos, com nossas dificuldades e imperfeições, com as questões e assuntos que queremos evitar, com nossos medos, nossos anseios, enfim, nossa forma única e singular e humanamente imperfeita de ver e ser no mundo.
Passamos assim - a partir do início de um isolamento social com o mundo - ao início do fim, de um isolamento social com nós mesmos. Nossas questões estão ali a olho nu, aparecendo dia após dia, e não há mais a distração do outro para deixar de olhar para elas.
Como lidar com isso sem perder o foco e a razão, é nosso real desafio.
Costumo dizer a meus clientes que estabelecer uma rotina, é muito importante para que possamos em alguns momentos desviar o foco de nós mesmos - e nossas dificuldades - para algo externo a nós e que signifique uma tarefa a ser cumprida, vencida.
Assim, coisas simples como acordar, tirar o pijama, tomar um café, fazer uma prece (para quem crê), fazer uma atividade física, fazer algo fora de uma rotina habitual, como cursos ou atividades de lazer, etc., e assim, estabelecer passos diários a serem dados, é de fundamental importância para que possamos sentir uma conexão com as tarefas sociais, que o mundo social nos impõe e do qual estamos privados de contato por tempo indeterminado.
Recomendo, aos que já fazem terapia que, continuem e até intensifiquem o processo, com mais de um sessão por semana, caso necessário. E aos que não fazem... talvez seja a hora de pensar em começar.
Uma boa alimentação, uma boa noite de sono e exercícios físicos, são sim bons e necessários... mas muitas vezes, não são uma opção. Equilibrar a necessidade e a possibilidade é na verdade a grande missão que temos em frente... E para isso precisamos ser generosos e nos perdoarmos por não podermos algumas vezes fazer tudo que gostaríamos.
No mais, sentir nossas necessidades e possibilidades, dia após dia, viver o hoje e focalizar apenas no que se dá conta de fazer para esse dia. Pensar no que não se pode fazer e prever, também é pensar no que se pode. Assim, descubrir, criar, inventar, inovar, são as palavras de ordem.
Olhar para as possibilidades e não só para as dificuldades, requer criatividade, e quanto mais criativo, mais capacitado e hábil está o individuo a se autorregular, e se ajustar de forma funcional e saudável para si.
Finalizando, se me perguntarem qual é a minha real sugestão para os tempos de crise em que vivemos: crie.
Por Manuela Gama Lobão
CPR 10/06520
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